Alcione tem um novo clipe – um pouco diferente do que os fãs estão acostumados. A cantora de 77 anos, ícone do samba e música brasileira, gravou um versão em coreano de Tem que me Prender para a Netflix. Assim como Fábio Jr. e Gretchen, a Marrom vai divulgar uma produção do streaming, o dorama Se A Vida Te Der Tangerinas. “Foram dois dias decorando a fonética das palavras em coreano. Parece que é fácil, mas não é”, diz Alcione.

Se A Vida Te Der Tangerinas é um romance de época ambientado na ilha de Jeju, na Coreia, onde suas quatro estações servem de pano de fundo para as aventuras de Ae-sun, uma personagem rebelde, e Gwan-sik, descrito como “feito de aço”. Sentimentos e relações são temas do repertório de Alcione, que diz que adoraria gravar com uma banda de k-pop.

“Acredito no amor, no felizes para sempre”, diz. ” Meu pai e minha mãe foram felizes para sempre”, conta a cantora, que conversou com Quem por telefone e falou sobre a vontade de ir a Coreia, seu legado depois de 50 anos de carreira e o futuro do samba, entre outros assuntos.

Alcione: ação em coreano com a Netflix — Foto: Divulgação/Netflix
Alcione: ação em coreano com a Netflix — Foto: Divulgação/Netflix

A Netflix já fez comerciais com Fabio Jr., Gretchen, Xuxa, Evaristo Costa, Luciana Gimenez e Lucas Jagger, entre outros. Como é se juntar a esse time?
Eu acho a glória (risos). É uma ponte Brasil-Coreia, e lá vou eu cantando em coreano, eles que me aguardem. Achei ótimo.

Sei que você canta em várias línguas, como se preparou para interpretar sua música em coreano?
Eu tenho que decorar a fonética, meu ouvido é musical, então, para mim já fica melhor, porque é difícil. Mesmo decorando a fonética, ela tem um charme que você tem que ouvir de uma pessoa apropriada, como se fosse um nativo. Foram dois dias decorando, você pensa que é fácil, mas não é. Estou descobrindo coisas bonitas na língua coreana.

Mudou algo na música nesta versão em coreano?
Não, a melodia não muda, é a mesma. Mas tem que jogar com as palavras, com essas sílabas coreanas.

Alcione: samba em coreano — Foto: Divulgação/Netflix
Alcione: samba em coreano — Foto: Divulgação/Netflix

Já foi à Coreia?
Nunca, mas um dia irei, me aguarde. Depois disso aqui tenho que ir (risos).

Faria um feat com um grupo de k-pop? Já ouviu algum artista de lá?
Não, não ouvi, mas toparia sim. Música é música em qualquer lugar do mundo.

Você assiste doramas?
Quem assiste muito são minhas irmãs no Maranhão. Lá as pessoas são muito fãs das produções assim, e elas comentam muito comigo. Estou muito feliz, mas foi uma surpresa ser convidada para fazer algo em coreano, porque não é mole (risos).

O romance é um componente forte dos doramas. Você acredita no amor, no “felizes para sempre”?
Eu acredito, sim. Meu pai e minha mãe foram felizes para sempre. Eles namoraram, se casaram, tiveram a gente [Alcione e seus irmãos], ficaram juntos 45 anos e, depois de um ano que um faleceu, o outro foi atrás. Existe, sim [amor para sempre]. E sempre cantei sobre esses temas.

Alcione: samba em coreano — Foto: Divulgação/Netflix
Alcione: samba em coreano — Foto: Divulgação/Netflix

Você tem fãs em muitos países em que o português não é o idioma oficial, entre eles o Axl Rose, de quem você se aproximou. Por que acredita que sua música, que tem letras tão fortes, consiga tocar estrangeiros tão profundamente?
A música tem esse poder de não importa a língua. Ela faz essa relação entre as pessoas, seja de que país for, porque a gente gosta de uma música e às vezes nem sabe traduzir. A melodia embala.

Quando você canta em outras línguas, você sente que as pessoas ficam ainda mais encantadas, porque estão entendendo o que você está falando?
É verdade. É bom cantar em outras línguas, saber a reação das pessoas quando você está cantando em russo, por exemplo. Elas [as pessoas] se sentem abraçadas também.

Que músicas apresentaria aos coreanos que vão ver o clipe?
Não Deixe o Samba Morrer, de que eu gosto muito. Isto Aqui, o Que é [isto aqui ô ô / É um pouquinho de Brasil iá iá / Deste Brasil que canta e é feliz]. E uma gafieira.

O doroma em geral tem um público mais novo. Como é sua relação com as gerações mais novas?
Eu não tenho preconceito com o que é novo, nem com quem é novo. Graças a Deus, a juventude sempre me acolheu também muito bem. E imagina, cantar para os jovens [com o clipe] vai ser tudo para mim. E eles frequentam muito meus shows. Eu já cantei com uma plateia só de jovens e de repente eu perguntei: ‘O que é isso, meu Deus do céu?’. E foi bom demais.

Muitos artistas têm dificuldade de renovar o público. Ao que credita ter conseguido atrair novos fãs?Acho que é uma relação é quase que espiritual, porque eu também não sou uma pessoa de me fechar. Eu sempre estive muito com meus sobrinhos. Jovem para mim não é novidade, muito pelo contrário, é uma grata surpresa.

Nos doramas as protagonistas femininas estão sempre batalhando ou pelo amor, ou pela felicidade; estão sempre correndo atrás de seu lugar no mundo. Você se identifica com isso? Precisou batalhar muito para ir atrás do que você queria?
E como eu precisei batalhar. Principalmente na época quando eu comecei, em que só homens vendiam e chegavam aos cem mil álbuns. Mulher vendia pouco, então nós precisamos batalhar muito, eu, Clara NunesBeth Carvalho, para alcançar essa marca. Aí vieram outras cantoras como Maria Bethânia, que vendeu um milhão de cópias e viemos todas no rastro. Hoje o mercado também é das mulheres.

O quão mais fácil é hoje para as mulheres?
Muito mais fácil. Elas vão pegar um caminho mais aberto. Até porque o o samba é muito ‘masculinista’, né? O samba antigamente mulher não entrava nem em bateria de escola de samba para tocar um tamborim, e hoje há alas inteiras em bateria só de mulheres. Eu ainda enfrentei muita coisa [em termos de preconceito], mas comigo, como meu pai e minha mãe me diziam, porta fechada é para bater e eu sempre bati nas portas e elas abriram.

Quais foram as barreiras mais difíceis que você teve que romper?
Acho que o fato de ser mulher e o fato de ser é nordestina. Tem meu sotaque, me corrigiam porque eu acentuava muito o R, mas continuei com ele e pronto.

No mundo do samba se fala muito de legado. Qual é o seu e como você vê o futuro do samba?
Olha, eu aprendi com CartolaNelson CavaquinhoDona Clementina, são pessoas que deixaram o legado para nós. E você vê uma juventude interessada no samba, tem baterias femininas, tem jovens tocando. O futuro do samba vai bem.

Alcione: samba em coreano — Foto: Divulgação/Netflix
Alcione: samba em coreano — Foto: Divulgação/Netflix

Você já ganhou o Grammy Latino, foi enredo de escola de samba mais de uma vez, e agora é estrela da Neftlix. O que tem vontade de fazer nos próximos anos?
Eu tenho muito mais para agradecer do que para pedir, porque Deus sempre foi muito bom para mim. Eu sempre estive ao lado das forças positivas; acredito em Deus, e me mantenho sempre assim, em pensar no positivo.

Sei que você gosta muito de ver televisão, streaming. Quais seus programas preferidos na Netflix?
Na verdade, eu gosto de ver mais shows. Quem escolhe para mim quando vamos ver um filme é minha irmã Manon, ela coloca na Netflix [e decide].

Se sua vida fosse virar, por exemplo, uma série na Netflix, que atriz gostaria que interpretasse você?
Eu gosto de tantas atrizes, gente, não quero ser antipática, meu Deus (risos). Não dá para escolher. O Brasil é um país de boas e grandes atriz como – e não só – a Fernanda Montenegro, mas tem Zezé Motta, eu gosto demais dela. A Taís Araújo é outra maravilhosa.

Quem você admira das novas gerações do samba?
Acho o Xande de Pilares super talentoso. Já gravei com Diogo Nogueira, mas tem muita mais gente boa ainda.

Como é ser a Marrom? Ela é diferente da Alcione?
É tudo a mesma coisa. Eu sou uma pessoa simples e acredito que eu não seja antipática. Agora é fácil dizer na minha casa, todo mundo gosta de mim, é na minha casa. Mas tudo bem, eu procuro fazer o máximo para não incomodar as pessoas.

Qual o sentimento quando as pessoas te abordam em um restaurante, no aeroporto?
É uma recompensa saber que as pessoas te reconhecem pelo teu trabalho.

ASSISTA AO VÍDEO:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *